terça-feira, 5 de maio de 2009

Historia

Pré-História

Ao contrário do significado da expressão que nomeia o período inicial da história humana, a Pré-História não se trata de um período anterior à História. Este termo foi cunhado por historiadores do século XIX, que acreditavam ser impossível julgar o passado por documentos que não fossem escritos. No entanto, o período pré-histórico, conta com um riquíssimo aparato documental que relata as descobertas e costumes do homem. Além disso, nos traz à tona uma série de questões de interesse atual, como a que se refere à relação do homem com a natureza.

Origem do Homem

Criacionismo



Criacionismo, uma teoria com diferentes versões.

A questão sobre as origens do homem remete um amplo debate, no qual filosofia, religião e ciência entram em cena para construir diferentes concepções sobre a existência da vida humana e, implicitamente, porquê somos o único espécime dotado de características que nos diferenciam do restante dos animais.

Desde as primeiras manifestações mítico-religiosas o homem busca resposta para essa questão. Neste âmbito, a teoria criacionista é a que tem maior aceitação. Ao mesmo tempo, ao contrário do que muitos pensam, as diferentes religiões do mundo elaboraram uma versão própria da teoria criacionista.

A mitologia grega atribui a origem do homem ao feito dos titãs Epimeteu e Prometeu. Epimeteu teria criado os homens sem vida, imperfeitos e feitos a partir de um molde de barro. Por compaixão, seu irmão Prometeu resolveu roubar o fogo do deus Vulcano para dar vida à raça humana. Já a mitologia chinesa atribui a criação da raça humana à solidão da deusa Nu Wa, que ao perceber sua sombra sob as ondas de um rio, resolveu criar seres à sua semelhança.

O cristianismo adota a Bíblia como fonte explicativa sobre a criação do homem. Segundo a narrativa bíblica, o homem foi concebido depois que Deus criou céus e terra. Também feito a partir do barro, o homem teria ganhado vida quando Deus assoprou o fôlego da vida em suas narinas. Outras religiões contemporâneas e antigas formulam outras explicações, sendo que algumas chegam a ter pontos de explicação bastante semelhantes.

Sendo um tema polêmico e inacabado, a origem do homem ainda será uma delicada questão capaz de se desdobrar em outros debates. Dessa forma, cabe a cada um julgar e adotar, por meio de critérios pessoais, a corrente explicativa que lhe parece mais plausível.

Evolucionismo



Evolucionismo, uma teoria ainda mal interpretada.

A teoria evolucionista é fruto de um conjunto de pesquisas, ainda em desenvolvimento, iniciadas pelo legado deixado pelo cientista inglês Charles Robert Darwin. Em suas pesquisas, ocorridas no século XIX, Darwin procurou estabelecer um estudo comparativo entre espécies aparentadas que viviam em diferentes regiões. Além disso, ele percebeu a existência de semelhanças entre os animais vivos e em extinção.

A partir daí ele concluiu que as características biológicas dos seres vivos passam por um processo dinâmico onde fatores de ordem natural seriam responsáveis por modificar os organismos vivos. Ao mesmo tempo, ele levantou a idéia de que os organismos vivos estão em constante concorrência e, a partir dela, somente os seres melhores preparados às condições ambientais impostas poderiam sobreviver.

Contando com tais premissas, ele afirmou que o homem e o macaco teriam uma mesma ascendência a partir da qual as duas espécies se desenvolveram. Contudo, isso não quer dizer, conforme muitos afirmam, que Darwin supôs que o homem é um descendente do macaco. Em sua obra, A Origem das Espécies, ele sugere que o homem e o macaco, devido suas semelhanças biológicas, teriam um mesmo ascendente em comum.

A partir da afirmação de Charles Darwin, vários membros da comunidade científica, ao longo dos anos, se lançaram ao desafio de reconstituir todas as espécies que antecederam o homem contemporâneo. Entre as diferentes espécies catalogadas, a escala evolutiva do homem se inicia nos Hominídeos, com mais de quatro milhões de anos.

O Homo habilis (2,4 – 1,5 milhões de anos) e o Homo erectus (1,8 – 300 mil anos) compõem a fase intermediária da evolução humana. Por fim, o Homo sapiens neanderthalensis, com cerca de 230 a 30 mil anos de existência, antecede ao Homo sapiens, surgido há aproximadamente 120 mil anos, que corresponde ao homem com suas características atuais.

Mesmo cercada por uma larga série de indícios materiais sobre as transformações da espécie humana, a teoria evolucionista não é uma tese comprovada por inteiro. O chamado “Elo Perdido”, capaz de remontar completamente a trajetória do homem e seu primata original, é uma incógnita ainda sem resposta.

Idade Antiga

A Grécia Antiga

A Grécia Antiga foi berço de várias práticas presentes no mundo contemporâneo.


Há mais de quatro mil anos, uma região excessivamente acidentada da Península Balcânica passou a abrigar vários povos de descendência indo-europeia. Aqueus, eólios e jônios foram as primeiras populações a formarem cidades autônomas que viviam do desenvolvimento da economia agrícola e do comércio marítimo com as várias outras regiões do Mar Mediterrâneo.

Mal sabiam estes povos que eles seriam os responsáveis pelo desenvolvimento da civilização grega. Ao longo de sua trajetória, os gregos (também chamados de helenos) elaboraram práticas políticas, conceitos estéticos e outros preceitos que ainda se encontram vivos no interior das sociedades ocidentais contemporâneas. Para entendermos esse rico legado, estabelecemos uma divisão fundamental do passado desse importante povo.

No Período Pré-Homérico (XX – XII a.C.), temos o processo de ocupação da Grécia e a formação dos primeiros grandes centros urbanos da região. Nessa época, vale destacar a ascensão da civilização creto-micênica que se desenvolveu graças ao seu movimentado comércio marítimo. Ao fim dessa época, as invasões dóricas foram responsáveis pelo esfacelamento dessa civilização e o retorno às pequenas comunidades agrícolas subsistentes.

Logo em seguida, no Período Homérico (XI – VIII a.C.), as comunidades gentílicas transformam-se nos mais importantes núcleos sociais e econômicos de toda a Grécia. Em cada genos, uma família desenvolvia atividades agrícolas de maneira coletiva e dividiam igualmente as riquezas oriundas de sua força de trabalho. Com o passar do tempo, as limitações das técnicas agrícolas e o incremento populacional ocasionou a dissolução dos genos.

Entre os séculos VIII e VI a.C., na Fase Arcaica da Grécia Antiga, os genos perderam espaço para uma pequena elite de proprietários de terra. Tendo poder sobre os terrenos mais férteis, as elites de cada região se organizaram em conglomerados demográficos e políticos cada vez maiores. É aqui que temos o nascimento das primeiras cidades-Estado da Grécia Antiga. Paralelamente, os gregos excluídos nesse processo de apropriação das terras passaram a ocupar outras regiões do Mediterrâneo.

No período Arcaico, que vai do século V até o IV a.C., a autonomia política das várias cidades-Estado era visivelmente confrontada com o aparecimento de grandes conflitos. Inicialmente, os persas tentaram invadir o território grego ao dispor de um enorme exército. Contudo, a união militar das cidades-Estado possibilitou a vitória dos gregos. Logo depois, as próprias cidades da Grécia Antiga decidiram lutar entre si para saber quem imperaria na Península Balcânica.

O desgaste causado por tantas guerras acabou fazendo de toda a Grécia um alvo fácil para qualquer nação militarmente preparada. A partir do século IV a.C., os macedônios empreenderam as investidas militares que determinaram o fim da autonomia política dos gregos. Esses eventos marcaram o Período Helenístico, que termina no século II a.C., quando os romanos conquistam o território grego.

Egito Antigo

As enchentes periódicas do Nilo fertilizavam as terras ao longo do vale e também causava inundações, o que obrigou seus habitantes a represar e distribuir as águas. Esse trabalho intenso e organizado levou à criação de uma civilização. Inicialmente, dividia-se em Alto Egito (vales) e Baixo Egito (deltas).

Religião do Antigo Egito

De religião politeísta, os egípcios adoravam deuses antopormófica (sob a forma humana) e antropozoomórfica( corpo humano com a cabeça de um animal). O deus mais importante era Rá (depois Amon-Rá), mas o mais popular era Osíris. Acreditando que os mortos podiam voltar à vida, desenvolveram a mumificação.

Período Pré-Dinástico

De 4.000-3.200 a.C., foram construídas as pirâmides de Queóps, Quéfren e Miquerinos. Essas obras custaram tanto esforço e sacrifício que a população rebelou-se. A nobreza de Tebas restabeleceu a autoridade do faraó e teve início ao Médio Império(2100-1750 a.C.). Foi uma época de prosperidade, mas as revoltas internas facilitaram a vitória dos hicsos, que dominaram o Egito por 150 anos. A expulsão dos hicsos deu início ao Novo Império (1580-525 a.C.), marcado por uma política guerreira e expansionista. Nesse período ocorreu a ocupação dos persas.

Sociedade

A sociedade era dividida em camadas sociais rígidas: a dos privilegiados (sacerdotes, nobres, funcionários) e a dos populares (artesãos, camponeses e escravos.)

Economia

A economia baseava-se na agricultura (trigo, cevada, linho, algodão, legumes, frutas e papiro), na criação (bois, asnos, gansos, patos, cabras e carneiros), na mineração (ouro, cobre e pedras preciosas) e no artesanato.

A mulher, a família e o Casamento no antigo Egito

A visão da mulher institucionalizada no Antigo Egito aparece claramente em alguns textos chamados de Instruções de Sabedoria. Os escribas aconselhavam aos egípcios a se casarem cedo e terem muitos filhos, além de abordar o cuidado que um homem deve ter com as mulheres estranhas e belas.

Mesopotâmia



Mesopotâmia: região povoada por uma grande diversidade de civilizações.

A região entre os rios Tigre e Eufrates foi o berço de diversas das civilizações desenvolvidas ao longo da Antigüidade. O aparecimento de tantas culturas nessa região é usualmente explicado pela fundamental importância dada aos regimes de cheias e vazantes que fertilizavam as terras da região. Ao longo desse processo, sumérios, assírios e acádios criaram vários centros urbanos, travaram guerras e promoveram uma intensa troca de valores e costumes.

Segundo alguns estudos realizados, a ocupação dessa parcela do Oriente Médio aconteceu aproximadamente há 4000 a.C., graças ao deslocamento de pequenas populações provenientes da Ásia Central e de regiões montanhosas da Eurásia. Cerca de um milênio mais tarde, os povos semitas também habitaram essa mesma região. Já nesse período, a Mesopotâmia possuía um expressivo conjunto de cidades-Estado, como Nipur, Lagash, Uruk e Ur.

Essas primeiras cidades são parte integrante da civilização sumeriana, tida como a primeira a surgir no espaço mesopotâmico. Dotadas de ampla autonomia política e religiosa, essas cidades viveram intensas disputas militares em torno de regiões férteis da Mesopotâmia. Nesse meio tempo, os semitas foram ocupando outras áreas onde futuramente nasceriam novos centros urbanos. Entre as cidades de origem semita, damos especial destaque a Acad, principal centro da civilização acadiana.

Nesse período de disputas e ocupações podemos observar riquíssimas contribuições provenientes dos povos mesopotâmicos. Entre outros pontos, podemos destacar a criação de uma ampla rede comercial, códigos jurídicos, escolas, conhecimentos matemáticos (multiplicação e divisão), princípios médicos, a formulação da escrita cuneiforme e a construção dos templos religiosos conhecidos como zigurates. Por volta de 2350 a.C., os acadianos, liderados por Sargão, dominaram as populações sumerianas.

Em 1900 a.C., a civilização amorita – povo de origem semita – criou um extenso império centralizado na cidade de Babilônia. Hamurábi (1728 – 1686 a.C.), um dos principais reis desse império, foi responsável pela unificação de toda a Mesopotâmia e autor de um código de leis escritas conhecido como Código de Hamurábi. Esse conjunto de leis contava com cerca de 280 artigos e determinava diversas punições com base em critérios de prestígio social.

Por volta de 1300 a.C. o Império Babilônico entrou em decadência em resultado da expansão territorial dos assírios. Contando com uma desenvolvida estrutura militar, esse povo ficou conhecido pela violência com que realizavam a conquista de outros povos. As principais conquistas militares do Império Assírio aconteceram nos governos de Sargão II, Senaqueribe e Assurbanipal. Com o passar do tempo, esse opulento império não resistiu às revoltas dos povos por eles mesmos dominados.

No ano de 612 a.C., os caldeus empreenderam uma vitoriosa campanha militar que deu fim à hegemonia dos assírios. A partir dessa conquista ficava registrada a formação do Segundo Império Babilônico ou Neobabilônico. O auge desta nova hegemonia na Mesopotâmia ficou a cargo do Imperador Nabucodonosor II. Em seu governo, importantes construções, como a Torre de Babel e os Jardins Suspensos, representaram o notável progresso material dessa civilização.

Em 539 a.C., durante o processo de formação do Império Persa, os babilônios foram subordinados aos exércitos comandados pelo imperador Ciro II. Essa conquista assinalou o fim das grandes civilizações de origem mesopotâmica que marcaram a história da Antigüidade Oriental.

Hebreus


A civilização hebraica teve sua história calcada nas narrativas do Antigo Testamento.

A cultura hebraica tem uma forte relação com o mundo contemporâneo. Levantando apenas um dos mais básicos argumentos que justificam essa afirmação, podemos atribuir a esse povo a criação de uma das maiores religiões do mundo atual: o cristianismo. Tendo essa posição de destaque na compreensão dos valores da cultura ocidental contemporânea, o estudo da civilização hebraica pode nos conceder intrigantes instrumentos de reflexão sobre os nossos valores e nossa cultura.

A história dos hebreus se confunde com a trajetória de diversos outros povos do mundo antigo. Entre outros episódios podemos destacar o exílio no Egito, a dominação pelos babilônios e a conflituosa relação com as autoridades do Império Romano. Uma das maiores fontes de estudo da trajetória do povo hebreu se encontra na Bíblia, principalmente na parte do conhecido Velho Testamento. Nesse livro, hoje de valor sagrado para o Cristianismo, podemos ver alguns traços da história e da cultura desse povo.

Em geral, costumamos dividir a história dos hebreus de acordo com as diferentes formas de organização política desse povo. A primeira fase dessa divisão faz referência ao chamado Período dos Patriarcas, onde um líder maior tinha atribuições de caráter religioso, jurídico e militar. Ao longo desse período temos uma fase de transição marcada pelo Êxodo para o Egito onde, fugindo de uma grande seca, essa civilização esteve sobre o domínio do Estado faraônico.

Depois de conseguirem se livrar da dominação egípcia, os hebreus se organizaram em diferentes tribos sendo cada uma delas comandadas por um juiz. As situações de conflito estabelecidas com os outros povos da região palestina acabaram por viabilizar a formação de uma monarquia centralizada. A fragmentação dos hebreus em dois novos reinos (Judá e Israel) enfraqueceu militarmente os hebreus, que acabaram subordinados aos babilônicos e romanos.

Após a Diáspora ocorrida no ano 70, os hebreus acabaram se espalhando ao redor do mundo. Suas tradições religiosas acabaram sendo o grande traço cultural capaz de manter os valores desse povo arraigados. Somente na segunda metade do século XX, o movimento sionista judaico foi capaz de estabelecer um novo Estado judeu na região da Palestina. A volta dos judeus ao seu local de origem, ainda hoje, sustenta uma interminável guerra com os árabes que dominaram a região durante todo esse tempo.

África pré-colonial



África Pré-colonial: um mosaico de culturas desenvolvidas na região subsaariana.

A grande maioria das populações africanas empregadas como mão-de-obra escrava no empreendimento colonial americano foi trazida de regiões da África Subsaariana. Compreendendo uma extensão que vai do Senegal até a Angola, diversas populações subsaarianas, pertencentes ao tronco lingüístico banto, se fixaram ao longo das regiões de savana formando diferentes culturas. As aldeias ali formadas surgiam em terrenos onde a caça e a agricultura se mostravam mais viáveis.

Esse tempo em que as aldeias se formaram foi marcado por diferentes deslocamentos populacionais motivados por conflitos tribais, desastres naturais ou crescimento demográfico. Ao longo de sua história, diversas tribos passaram a entrar em contato e, posteriormente, formaram pequenos Estados. Essa primeira experiência política mais complexa possibilitou o desenvolvimento de um articulado comércio de gêneros agropecuários.

As condições hostis dessa região acabaram sendo propulsoras de uma série de práticas que marcaram os costumes destes povos africanos. As doenças e intempéries climáticas faziam com que a capacidade de manter uma prole extensa fosse extremamente valorizada. A virilidade sexual era compreendida como um dado que distinguia socialmente os indivíduos. A título de exemplo, observa-se a grande recorrência de esculturas representando a figura de mulheres grávidas.

De forma geral, a economia se organizava em torno da posse coletiva das terras. Um chefe tribal ordenava a distribuição de lotes de terra mediante o pagamento de uma determinada tributação. A divisão de tarefas no trabalho agrícola contava com a participação de homens e mulheres. As famílias agregavam uma ampla extensão de indivíduos que englobava filhos, esposas, parentes mais pobres, agregados e escravos. A prática da escravidão nessas culturas contava com uma complexa organização.

Os escravos mais prestigiados eram utilizados para os combates militares entre as tribos rivais. Outra parcela de escravos trabalhava junto aos camponeses e acabavam sendo incorporados ao ambiente familiar. Alguns escravos chegavam a desfrutar de alguns privilégios e poderiam até mesmo ter algum tipo de posse. A inserção social de escravo só não acontecia na livre escolha de uma esposa ou na participação das questões políticas.

As práticas religiosas destas tribos africanas contavam com uma grande variabilidade de crenças. Um exemplo dessa questão pode ser claramente observado nas concepções que regiam a relação dos indivíduos com a natureza. Em algumas culturas, as manifestações naturais eram temidas e vistas como uma conseqüência direta do comportamento dos deuses. Dessa forma, diversos rituais eram desenvolvidos com o propósito de apascentar tais forças. Em outras culturas, animais eram compreendidos como representantes de determinadas virtudes e características.

A partir do processo de expansão marítima empreendido pelas nações européias e o desenvolvimento do tráfico negreiro, diversas dessas culturas foram profundamente transformadas. No ambiente colonial, várias das tradições foram reinterpretadas à luz das demais culturas que conviviam no continente americano. Contudo, as poucas características aqui levantadas sobre as culturas africanas, demonstram a existência de todo um modo de vida rico e diverso, estabelecido antes do contato com o “europeu civilizado”.

Pré-História da América

Pode-se afirmar que o conjunto do continente americano estava em plena pré-história (com diferentes graus de evolução cultural) quando se iniciou a conquista européia, uma vez que, fora os maias e os astecas, nenhum outro povo ameríndio tinha então elaborado uma história escrita. Mas os especialistas fazem distinção entre as fases pré-históricas propriamente ditas (paleolítico e começo do neolítico) e o desenvolvimento de culturas com formas políticas e artísticas avançadas. Em muitos aspectos, paralela à de outras partes do planeta (o que confirma a hipótese da homogeneidade intelectual dos vários ramos da espécie humana), a pré-história americana apresenta algumas importantes peculiaridades, em geral derivadas das condições naturais e climáticas.


Povoamento do continente. Embora não haja unanimidade a respeito da questão, pesquisas arqueológicas, geológicas, paleontológicas e lingüísticas parecem indicar que o continente americano começou a ser povoado entre 40000 e 20000 a.C., por grupos humanos de raça mongolóide ou pré-mongolóide, procedentes da Ásia oriental. Esses imigrantes, caçadores e coletores, entraram na América pela zona do estreito de Bering, emersa em conseqüência da diminuição do nível marinho produzida pela última glaciação (Wisconsin ou Würm). Devem ter chegado em ondas sucessivas, até 10000 a.C., ao lado das possíveis migrações esporádicas pelo Pacífico ou pelo Atlântico (elementos australóides e melanóides), o que explicaria a significativa diversidade etnográfica entre os povos ameríndios.

O paleolítico ou paleoindígena, na periodização da pré-história americana, cabe identificar inicialmente um paleolítico inferior, localizado em partes distintas do continente e configurado pelo emprego de instrumentos de pedra (principalmente obsidiana) muito toscos e utensílios de osso associados à fauna pleistocênica desaparecida (mastodontes, mamutes, camelídeos, cavalos, bisões).

Embora não estejam datados com precisão satisfatória, os artefatos líticos desse período apresentam certa analogia com os primitivos artefatos de seixos (pebble cultures) do sudeste asiático, o que confirmaria a emigração de povos asiáticos para a América. Esses artefatos -- pedras talhadas com uma só face (choppers) ou duas (bifaces) ou ainda uma espécie de raspadeira -- se caracterizam por serem peças toscas.

Entre 15000 e 14000 a.C., uma nova onda de imigrantes asiáticos viria contribuir para o desenvolvimento cultural dos povos ameríndios. A caça continuou a ser a atividade econômica fundamental, mas os instrumentos de pedra começaram a ser fabricados em tamanho menor e com técnica mais aperfeiçoada de lascamento por pressão. Esse período, correspondente ao paleolítico superior, caracteriza-se pelo aparecimento de pontas de flecha bifaciais e facas de pedra, cujas peculiaridades permitiram estabelecer uma evolução tipológica claramente diferenciada.

Em primeiro lugar encontram-se as pontas Sandía, estudadas principalmente no Novo México, que aparecem associadas a restos de mamute e apresentam um talho num dos lados. Essas pontas, cuja técnica é semelhante à dos utensílios do solutrense europeu, foram substituídas entre 10000 e 9000 a.C. -- coincidindo com o fim da última glaciação e o conseqüente desaparecimento do mamute -- pelo tipo Clóvis, de forma lanceolada e com uma estria central em uma ou nas duas faces, tipo que chegou a difundir-se por todo o continente.

O tipo Folsom, também localizado em toda a América e principalmente nos vales fluviais do sudeste dos Estados Unidos, é de tamanho menor. Caracteriza-se pela forma foliácea, com base côncava e estria central dos dois lados. Assim como as anteriores, essas pontas aparecem associadas na América do Norte com a caça do bisão e, no resto do continente, com a perseguição de outros animais, como cavalos e camelos, posteriormente extintos.

Entre 8000 e 6000 a.C., o tipo Folsom evoluiu, em todo o continente, para formas triangulares sem pedúnculo e, por último, para pontas com pedúnculo que se mantiveram em muitos lugares até a chegada dos europeus.

Deve-se lembrar que, em diversas zonas do continente, por isolamento ou por adaptação ao meio, vários povos se mantiveram num estágio cultural muito primitivo. É o caso dos índios do planalto brasileiro ou das selvas amazônicas, cujas armas eram fabricadas com bambu, espinhos ou madeira. Outros povos desenvolveram formas de vida baseadas na pesca e na caça (fueguinos, esquimós) ou na coleta de moluscos, como atestam os depósitos de conchas (sambaquis) encontrados em diversas zonas litorâneas.

Por último, cabe destacar o desenvolvimento de uma cultura original no oeste dos Estados Unidos e no México, a tradição do deserto, da qual deriva a cultura cochise; esta última, desenvolvida a partir de 6000 a.C., e fundamentada na caça menor e na coleta, apresenta vestígios do paleolítico inferior (artefatos líticos muito toscos).
Revolução neolítica. Em algumas zonas do México, da América Central e dos Andes centrais e setentrionais, começou entre 5000 e 4000 a.C., um processo de neolitização semelhante ao do Velho Mundo, embora cronologicamente posterior. Caracterizou-se pelo aparecimento seqüencial de várias fases: formas sistemáticas de coleta de vegetais; sedentarização e urbanismo incipiente; cerâmica, cestaria, tecidos e, finalmente, artefatos de pedra do tipo microlítico e adaptados à economia agrícola (almofarizes, mãos de pilão). A revolução neolítica americana, consolidada entre 3000 a 1500 a.C., caracteriza-se basicamente pelo aproveitamento das espécies vegetais autóctones (milho, batata, abóbora, cacau, mandioca, girassol etc.), para o que se empregavam diversas técnicas agrícolas (irrigação, cultivo em terraços escalonados, fertilização), e pelo pequeno desenvolvimento da criação de gado, já que só era possível a domesticação de alguns animais pouco produtivos, como o cão, a lhama ou a alpaca.

A zona meso-americana (México e América Central) parece ter sido o primeiro núcleo de desenvolvimento da agricultura, segundo mostram as escavações realizadas em Tamaulipas e no vale de Tehuacán (México), onde foi possível estabelecer uma sucessão cronológica a partir do conjunto de utensílios e da evolução e seleção das plantas cultivadas (fases de Coxcatlán, Abejas, Purrón, Coatepec).

Na zona andina (do Equador ao centro do Chile, incluindo parte do Peru e da Bolívia), a evolução foi mais lenta por causa do isolamento entre os vales e entre o litoral e a cordilheira; mas, assim como na área meso-americana, o desenvolvimento da agricultura e da sociedade urbana constituiu o ponto de partida para o florescimento das grandes culturas e civilizações que se sucederam do segundo milênio antes da era cristã até a conquista espanhola.

Em comparação com o neolítico do Velho Mundo, deve-se assinalar como fato diferenciador o desconhecimento, por parte do homem americano, de algumas importantes invenções e conquistas intelectuais; a roda, o arco e a abóbada (na arquitetura), a metalurgia desenvolvida ou a escrita alfabética foram algumas das mais gritantes carências culturais das grandes civilizações americanas. Mesmo em suas fases de maior progresso, essas civilizações não chegaram a superar a categorização de neolítico avançado, embora, pela complexidade social e pelo nível de conhecimentos em campos como a arquitetura ou a astronomia, se situem fora da pré-história, numa fase cultural conhecida como proto-história.

Além das importantes regiões culturais da Meso-américa e dos Andes, outras zonas do continente também conheceram certo desenvolvimento de tipo neolítico, em parte como conseqüência da influência das primeiras. Desta forma, a partir de 3000 a.C., desenvolveu-se no sudoeste norte-americano, como continuação da tradição do deserto e da cultura cochise, as culturas hohokan, mogollon e anasazi (pueblo), que substituíram progressivamente a atividade caçadora e coletora por uma economia de tipo agrícola, com cerâmica e construções arquitetônicas.

A partir dessa zona, a agricultura se estendeu para o leste, onde se destacam as culturas old copper (nos Grandes Lagos) e Adena (Ohio), conhecedoras de uma metalurgia rústica do cobre, e mais tarde a Hopewell (Illinois), com grandes povoados.

A neolitização se estendeu também pelo continente sul-americano, embora com maior atraso e sempre em associação com a antiga economia caçadora e coletora. Entre outros, destacam-se os povos caraíbas, tupis e guaranis, dos planaltos e planícies do Amazonas e do Orinoco (com grandes ocas comunitárias), além dos araucanos do Chile (norte e centro) e dos pampas norte-ocidentais da Argentina, cuja cultura se beneficiou do contato com a área andina.

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